Ávine Junior Cardoso. Jogador do atual elenco há mais tempo no Bahia. Desde 1998, tem o Fazendão como segunda casa. Em 2006, foi promovido ao time titular. Desde então, passou apenas uma temporada sem vestir o azul, vermelho e branco. Figura carimbada no Tricolor e xodó da torcida. Não mede esforços para entrar em campo. Não foram poucas as vezes em que jogou no sacrifício. Símbolo de raça, é uma grande arma ofensiva. No entanto, marcou poucos gols. Foram apenas 17 em oito anos. Um deles, entretanto, é mais do que especial. Foi ele quem balançou pela última vez a rede da Fonte Nova. Foi depois de um chute dele que, pela última vez, o grito de gol ecoou da ferradura do maior estádio da Bahia em direção ao Dique do Tororó.
O dia era 22 de novembro de 2007. A Série C do Campeonato Brasileiro estava a três rodadas do fim. Na luta para deixar o então porão do futebol brasileiro, o Bahia vivia um momento de união ainda mais forte com a torcida. Os 60 mil ingressos para o jogo já tinham sido vendidos com antecedência. Em campo, um resultado à altura do público e da festa tricolor: 3 a 0.
dois primeiros gols do Bahia na partida foram marcados por Elias – um no primeiro e o outro no segundo tempo. Ávine começou o jogo no banco de reservas. Treinado por Arturzinho, o time atuava no 3-5-2. O lateral-esquerdo só entrou em campo no segundo tempo, exatamente na vaga do autor dos dois primeiros gols do jogo.
Nos minutos finais do jogo, já aos 41, Ávine pegou a bola na ponta esquerda, entrou na área e, mesmo com a marcação de dois adversários do ABC, chutou na saída do goleiro Raniere. O chute saiu fraco. O lateral estava desequilibrado, mas a bola entrou devagar no canto esquerdo do gol situado no lado do Dique do Tororó. Estava feito o último gol na Fonte Nova.
- Eu só me dei conta de que tinha feito o último gol do estádio quando foi interditado. Só ali que a ficha caiu. O último gol é minha maior lembrança da Fonte Nova. Foi algo que ficou marcado para mim – afirma o jogador, quase seis anos depois.
Depois do triunfo em uma noite de quinta-feira, o Bahia voltou a jogar ainda uma última vez na Fonte Nova. Três dias depois, o Tricolor defendia a liderança do octogonal final da Série C diante do Vila Nova. O jogo garantiu o retorno do time baiano à Segunda Divisão. Mas a festa não pôde durar muito. Quando a torcida já comemorava o acesso, parte da arquibancada superior da Fonte Nova cedeu e sete pessoas morreram.
O jogo terminou 0 a 0 e, por pouco, o último gol da Fonte Nova não teve outro autor. Aos 44 minutos do primeiro tempo da partida contra o Vila Nova, Elias foi derrubado na área pelo goleiro Vinícius. Pênalti claro. Nonato, também ídolo da torcida, pegou a bola, chamou a responsabilidade, mas errou. O atacante bateu forte para a defesa de Vinícius. Quis o destino que o nome do mineiro de Aimorés ficasse marcado para sempre na história do Bahia e da Fonte Nova.
Seis anos depois, um novo Ávine
O tempo passou e pouco daquele Ávine de 2007, então com 19 anos, continua. O lateral amadureceu. Aprendeu com os erros cometidos no futebol e passou a ser um seguidor daIgreja Batista Planeta de Cristo. A religião, diz dele, foi o marco para a principal transformação na vida.
- Mudou tudo. A minha vida mudou 100%. Hoje eu sou evangélico. Sou 100% cristão. Hoje eu vivo da minha casa para o Fazendão e do Fazendão para a igreja. E para a minha família, principalmente. Hoje eu tenho me apegado muito a Deus. Eu sei que o que estou passando é uma provação de Deus para que, quando as coisas começarem a acontecer, eu dar valor e continuar com os pés no chão – diz.
Um dos sinais da mudança está no comportamento do jogador. Mais centrado, Ávine mudou até seu visual. Convidado pelo GLOBOESPORTE.COM, o lateral visitou a Arena Fonte Nova com um estilo bem diferente do esperado da maioria dos boleiros. Com camisa social, calça jeans e sapato fino, ele se mostrou deslumbrado com a estrutura do novo estádio.
A visita fez com que a ansiedade do jogador para voltar a campo se tornasse ainda maior. Diagnosticado com uma lesão na cartilagem do joelho, ele não disputa uma partida oficial desde agosto do ano passado, quando o Bahia empatou em 0 a 0 com a Portuguesa. Após um longo período de fortalecimento muscular, com duas tentativas de retorno aos gramados, o lateral voltou a treinar normalmente com o grupo há duas semanas.
- Estou bem. A confiança aumenta a cada dia. Estou feliz por voltar a treinar com bola com o grupo. Há muito tempo eu não treinava com bola. A gente tem que ter sabedoria que, por ter ficado muito tempo parado, não posso fazer tudo de vez. A ansiedade bate, mas tem que ter paciência para que as coisas possam fluir naturalmente – alerta o jogador.
O maior desejo de Ávine é poder estar em campo no dia da inauguração da Arena Fonte Nova. As chances disso acontecer são pequenas. Por causa do longo período parado, o lateral vai precisar também se recondicionar fisicamente. Mas não há como duvidar de um apaixonado pelo Bahia que não se esquivou de tomar, mais de uma vez, infiltrações no joelho para entrar em campo. Ainda mais quando há uma nova chance de entrar para a história.
- Eu tive a oportunidade de fazer o último gol da Fonte Nova. Quem sabe agora eu não volte e possa também, se for da vontade de Deus, fazer o primeiro gol do novo estádio? – sonha o jogador do Bahia.
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